"O corpo fala quando não sabemos mais o que dizer."

Quantas vezes você já sentiu um peso no peito, um nó na garganta ou uma dor de cabeça insistente — mesmo quando todos os exames diziam que estava tudo bem? Talvez seu corpo estivesse tentando dizer o que sua voz não conseguia.

 

Vivemos tempos em que as emoções são frequentemente silenciadas. Pela pressa, pela necessidade de parecer sempre forte ou pelo medo de reconhecer fragilidades, aprendemos a desconectar o sentir do expressar. Mas o que não dizemos com palavras, dizemos com o corpo.

 

O corpo tem uma linguagem silenciosa.

 

Jung nos ensinou que o corpo é mais do que uma máquina biológica: ele é a sombra visível da psique. Quando conflitos emocionais ou padrões inconscientes não encontram espaço na consciência, buscam caminhos alternativos — e frequentemente se manifestam como sintomas físicos. Essa visão foi ampliada por Marie-Louise von Franz ao compreender as doenças não apenas como disfunções, mas como símbolos. Para ela, cada dor pode carregar um pedido oculto de transformação. A compreensão simbólica do adoecimento também encontra sustentação na psicossomática moderna. Gabor Maté, psiquiatra e pesquisador, afirma que emoções reprimidas — especialmente aquelas associadas à raiva, medo e sensação de desamparo — não desaparecem. Elas permanecem ativas no corpo, moldando sintomas que vão de dores crônicas a doenças autoimunes.
"Quando ignoramos nossas necessidades emocionais, o corpo assume a tarefa de expressá-las", observa Maté.

 

Em muitos casos, observa-se que sintomas como crises de pânico ou mesmo doenças autoimunes coexistem com padrões emocionais ou traumas que não foram plenamente elaborados.
Isso não significa que a causa seja apenas emocional — essas condições têm origens multifatoriais, incluindo aspectos biológicos, genéticos e ambientais.
Contudo, a relação entre corpo e psique é inegável e nos convida a olhar para o sofrimento físico também como uma expressão do mundo emocional.

 

A vida moderna nos condiciona a usar máscaras.

Para trabalhar. Para conviver. Para sermos aceitos.

Na psicologia profunda, chamamos essa máscara social de Persona. Jung nos ensinou que a Persona é uma adaptação necessária, que nos permite desempenhar papéis e manter vínculos na sociedade.

O problema não está em usá-la, mas em acreditar que somos apenas ela.

Quando a Persona se torna rígida e passa a definir toda a nossa identidade, aquilo que é reprimido começa a buscar outras formas de expressão. Em contextos profissionais, sociais e até familiares, aprendemos a suprimir emoções consideradas indesejáveis: tristeza, raiva, frustração. Como resultado, vamos nos distanciando da escuta do próprio corpo.

Como afirmou Jung, aquilo que não se torna consciente acaba sendo vivenciado como destino — e, muitas vezes, como doença. A cultura da produtividade e da positividade tóxica reforça essa repressão emocional. Somos encorajados a ignorar sinais de esgotamento, normalizar o cansaço e anestesiar dores físicas e emocionais com medicamentos ou distrações. Mas o corpo, sábio e persistente, continua falando.

 

O corpo também fala nos gestos, nas tensões e nos silêncios.

Pierre Weil e Roland Tompakow, no clássico O Corpo Fala, nos lembram que não é apenas na dor que o corpo se comunica. Posturas, tensões musculares, gestos e até hábitos repetitivos falam sobre o que vivemos e sentimos — mesmo quando não reconhecemos conscientemente esses sentimentos. A psicologia comportamental e a psicologia profunda convergem nessa compreensão: O corpo é uma ponte entre o inconsciente e o mundo exterior. Ele denuncia nossos silêncios e revela, em pequenos gestos, o que a psique reprime.

 

Escutar não é fraqueza.  Reconhecer os sinais do corpo não é rendição, é um ato de coragem. Coragem para escutar, para sentir e — principalmente — para mudar. Na psicologia profunda, chamamos isso de individuação: O processo de tornar-se quem se é, integrando mente, corpo e emoções em uma jornada de reconexão consigo mesmo.

Escolher escutar é um ato de coragem. Não escolhemos os sintomas que o corpo manifesta, nem sempre escolhemos as circunstâncias que nos cercam.
Mas podemos escolher como nos relacionamos com esses sinais.
Podemos escolher a escuta ao invés do silêncio, o cuidado ao invés da repressão.
Essa é a primeira escolha no caminho da individuação: reconhecer que sentir e transformar é possível, mesmo que aos poucos.

O corpo fala. E quando você começa a escutar, ele não precisa mais gritar.

 

Para refletir:

Qual parte do seu corpo tem tentado te dizer algo ultimamente?

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