Escutar é um ato raro e, hoje em dia revolucionário.


No dia a dia, no trabalho, em diferentes momentos, a gente se acostumou a ouvir só para responder, e não para compreender. Enquanto o outro fala, a mente já formula o contra-argumento, o exemplo pronto, a justificativa que defende o próprio ponto – o plano é finalizar a conversa o quanto antes, resolver o problema, partir para o próximo tema.

O ponto aqui é que a verdadeira escuta não cabe nesse ritmo.
Ela exige pausa e presença. E não só corpo presente, mas corpo e mente. É a escolha consciente de abrir espaço dentro de si para que a voz do outro caiba, sem precisar disputar território.

Há algumas semanas vivi uma conversa no minimo curiosa. Era para ser um daqueles momentos em que o mais importante não era avaliar entregas, mas escutar o que foi vivido.
Na conversa eu percebia falas prontas vindo do outro lado, como se o roteiro já estivesse escrito antes mesmo do encontro começar, como se o chatgpt tivesse escrito o roteiro da conversa e claramente não havia espaço para troca. Era um monólogo e eu era a audiencia.


Nesse instante que me dei conta de algo: quantas vezes a gente acha que está ouvindo, mas só está confirmando o que já esta formatado na mente? Escutar, de verdade, é se permitir ser atravessado pelo que o outro traz mesmo que desorganize algo em nós, não tem roteiro pronto, tem escuta/troca viva.

E não é apenas o mundo corporativo que se tornou especialista em respostas rápidas. Todo mundo tem uma resposta, já viveu aquilo, uma formula mágica, um roteiro mental preparado.


Mas, às vezes, o que o outro precisa não é de uma resposta é de reconhecimento. É ser ouvido sem ser interrompido, compreendido sem ser corrigido, ser visto, sem precisar provar o próprio valor.

Escutar é um ato de humildade. É admitir que talvez o outro saiba algo que você não sabe, que a experiência dele é diferente da sua, abdicar, mesmo que por alguns minutos, do poder de estar certo. Isso é um luxo hoje em uma sociedade em que todos tem opinião a respeito de tudo, todos sabem de tudo e no fim de tudo um nada.

Uma boa escuta não resolve tudo, mas transforma o clima, a confiança, o modo como as pessoas se sentem no time, isso porque quando alguém se sente ouvido, algo dentro se reorganiza.


A defensiva baixa, o vínculo se fortalece e o diálogo começa a existir de verdade.

A escuta que transforma não é passiva, ela é atenta, curiosa e generosa, faz perguntas, se interessa. O interesse na troca não é concordar, mas compreender.

No fim do dia, escutar é um exercício de presença. E presença é o que falta quando tudo pede pressa.

Proponho um exercício da semana: em uma próxima conversa — seja com quem for, não antecipe sua resposta.
Apenas ouça.
Respire antes de falar.
Observe o que muda no outro e em você quando o silêncio deixa espaço para a escuta.

Com escuta e movimento,

Thaís Pontin
Psicóloga | Fundadora da Senda 

Minha atuação acontece no espaço onde pessoas, carreiras e organizações se encontram: apoiando executivos, líderes, equipes e jovens talentos em jornadas que despertam consciência e geram impacto real.

Na clínica ou nas empresas, sigo a mesma missão: enxergar o indivíduo em sua totalidade — antes, além e para além do trabalho — reconhecendo sua essência, sua singularidade e sua potência.