Entre a sombra e a consciência

23 maio, 2025

No coração da vida moderna, muitos de nós fomos ensinados a identificar nosso valor com o que fazemos. Eu, por exemplo, na adolescência, aprendi que ser reconhecida significava ter sucesso profissional. Me formei, conquistei cargos importantes e, ainda assim, sentia um vazio persistente ao final de cada dia. Percebi que minha identidade estava tão entrelaçada ao trabalho, ao crachá que carregava, que não sabia mais o que gostava de fazer nos momentos de descanso.

 

Essa desconexão, vivida em silêncio, revela o preço de confundir ser com produzir.

 

O trabalho tornou-se não apenas meio de sustento, mas também medida de identidade. Não é raro ouvirmos: "Quem é você?" e respondermos com um cargo, uma profissão, um papel social. Mas e se houver algo mais? E se nossa alma estiver pedindo por espaço para existir para além da Persona? Pense, por exemplo, em quantas vezes você já sentiu que precisava esconder uma parte sua para ser aceito em algum ambiente ou situação. Esse tipo de silenciamento interno, repetido ao longo dos anos, se transforma em dor silenciosa.

 

Carl Jung nos lembra que a Persona é uma máscara necessária para a vida em sociedade. Ela nos permite desempenhar papéis, pertencer, funcionar. Mas quando confundimos essa máscara com quem somos, algo em nós adoece.

 

A Sombra, tudo aquilo que não se encaixa na imagem idealizada que projetamos, começa a se manifestar — no corpo, nas relações, no silêncio profundo de uma insatisfação sem nome.

Na psicologia analítica, a Sombra representa os aspectos inconscientes da personalidade que o ego não reconhece como seus — frequentemente porque são considerados inaceitáveis ou incompatíveis com o autoconceito, com a o que você acredita conscientemente ser o “jeito certo”. Mas atenção: a sombra não é apenas negativa. Ela pode conter qualidades reprimidas, potenciais não vividos, desejos autênticos que não foram acolhidos na infância ou pela cultura. Jung dizia: “Até você tornar o inconsciente consciente, ele dirigirá sua vida e você o chamará de destino.” Essa frase carrega um profundo chamado à responsabilidade e à liberdade. A sombra não é o oposto do bem — é o complemento do ego consciente. Integrá-la é caminhar em direção ao Self, que representa a totalidade do ser. Jung dizia que o ouro está na sombra: tudo que nos falta para sermos inteiros está lá.

 

A sombra é parte essencial do nosso verdadeiro Self — aquela parte que emerge quando não precisamos de amarras, quando nos permitimos ser inteiros. Integrar a sombra é um ato de liberdade, não de fraqueza.

 

A individuação, segundo Jung, é esse caminho de retorno a si, que passa por etapas simbólicas como o confronto com a Sombra, a integração dos opostos internos, e o reconhecimento do Self — o centro organizador da psique. Um dos símbolos mais potentes desse processo é a mandala, que representa a totalidade psíquica em busca de equilíbrio. A mandala, surgindo espontaneamente em sonhos e criações, expressa essa jornada de reunificação interior que nos torna mais inteiros, mais verdadeiros. Um percurso corajoso de integrar a Sombra, acolher o que foi exilado, escutar a alma por debaixo das exigências sociais. Esse processo pode ser simbolizado pela jornada do herói: descer ao mundo subterrâneo do inconsciente, enfrentar seus monstros internos, e retornar com um novo sentido de identidade. A individuação não acontece de forma linear; é um espiral de reconhecimentos, rupturas e renascimentos.

Como afirma James Hillman, a alma quer profundidade, quer sentido, quer vida vivida com inteireza. É importante ter em mente que tudo o que negamos em nós ganha força nas sombras. Integrar esses aspectos não é ceder ao caos, mas fazer as pazes com nossa humanidade. O conceito da escuta mitopoética — proposto por autores como Clarissa Pinkola Estés — nos convida a escavar os contos e arquétipos como espelhos da alma. A mitopoética entende que as histórias antigas e os mitos falam sobre nós, sobre nossos ciclos de perda, cura, transformação. Ao escutá-los, acessamos partes esquecidas de nós mesmos.

 

Este artigo é um convite: a olhar para além do que você mostra, a se permitir pequenas pausas de escuta, a se observar com mais gentileza. Que tal escolher um momento do dia para anotar um pensamento, uma emoção ou uma sensação que costuma ser ignorada? São nesses gestos simples que a alma encontra espaço para emergir. A perguntar-se quem você é quando ninguém está olhando. Porque talvez seja ali, na sombra, que more a chave da sua liberdade.

Experimente reservar alguns minutos em silêncio hoje. Feche os olhos e pergunte a si mesmo: que parte minha estou evitando? O que minha alma deseja me mostrar? Escutar pode ser o primeiro passo para a liberdade.

 

Se quiser, vá além: pegue uma folha em branco e desenhe uma mandala — não para ficar bonita, mas para deixar sua alma se expressar. Pode começar com um ponto, um círculo, um traço, mesmo que pareça desconfortável a construção. Lembre-se não existe certo ou errado. Existe presença. Muitas vezes, a dificuldade de começar revela o quanto queremos acertar. E talvez esse seja o primeiro sussurro da Sombra: a liberdade começa quando deixamos de tentar parecer e começamos a simplesmente ser.

 

E você, tem ouvido sua alma ultimamente?


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Do desempenho à escuta: minha jornada até a Senda da Alma

7 maio, 2025

Construí minha carreira no mundo corporativo.
Ao longo de 15 anos, passei por grandes companhias como Monsanto, Roche, Basf e Ubyfol. Empresas que, durante muito tempo, fizeram sentido para mim. Elas representavam crescimento, desafios e a oportunidade de estar em ambientes de inovação e impacto.

Conheci pessoas incríveis nesse percurso. Tive líderes e colegas que me ensinaram muito — sobre desenvolvimento humano, liderança verdadeira, cuidado e o valor de viver cada etapa da jornada profissional.
Também encontrei desafios. Algumas experiências me fortaleceram. Outras, nem tanto. Em certos momentos, as lições foram duras. Questionei minha capacidade e me perguntei se o rumo que eu estava tomando refletia quem eu realmente era. Vi culturas organizacionais saudáveis e outras que esgotavam mais do que inspiravam.

Cada ambiente me trouxe aprendizados — inclusive sobre o que eu não queria repetir.

E já, mais recentemente, no meio dessa jornada, também compreendi algo essencial sobre mim mesma: sou uma pessoa neurodivergente.
Esse reconhecimento não foi um obstáculo, na verdade ampliou minha capacidade de acolher diferentes formas de sentir, pensar e transformar. Permitiu integrar ainda mais minha experiência clínica com minha vivência no desenvolvimento humano — e compreender que pensar diferente não é um desafio. É uma riqueza.

Aos poucos, algo começou a mudar. Um chamado silencioso foi surgindo no meio das entregas, reuniões e metas.


Eu queria ser um agente de transformação real — não apenas atuando como facilitadora — enabler — de pessoas para alcançar resultados e superar desafios, mas aproximando-as de quem realmente são.

Já não cabia em espaços que pediam desempenho sem escuta, repetição sem propósito.

Foi então que, ainda de maneira tímida e em paralelo, iniciei minha atuação na clínica.
Senti o frio na barriga de quem está começando de novo.

Mas logo entendi que eu não estava recomeçando. Estava integrando.

Cada experiência no mundo corporativo me fortaleceu e me deu repertório para me tornar uma psicóloga que compreende os dilemas reais de quem vive os desafios profissionais e pessoais de hoje. A cada nova pessoa, nova história e nova conexão, meu propósito se tornava mais claro.

Transitei entre ambientes diversos, conheci pessoas de diferentes lugares do mundo e percebi uma transformação: a necessidade de estar do outro lado. Do lado de quem acolhe, cuida, escuta e também propõe desafios — sempre com respeito pelo tempo e pela história do outro.

Assim redescobri o que faço de melhor:
Criar espaços onde as pessoas possam olhar para suas dores, mas também para suas potencialidades.
Onde possam entender o que precisa ser transformado e o que merece ser fortalecido.
Onde possam escutar o que o corpo e a alma tentam dizer quando as palavras já não dão conta.

Aprendi que tudo é jornada — jornada da vida, do desenvolvimento e da possibilidade de viver com mais verdade. Estamos sempre criando, aprendendo e ressignificando.

Foi dessa travessia que nasceu a Senda da Alma.

Mais do que um espaço de atendimento psicológico, a Senda é um convite à reconexão.
Um lugar onde a psicologia profunda — com base na abordagem analítica — encontra a prática, onde a escuta se transforma em movimento e onde as dores silenciosas podem finalmente ser acolhidas e transformadas — individualmente e em grupo.

A Senda da Alma é o caminho que une tudo o que vivi e tudo o que acredito.


Meu propósito é caminhar ao lado de quem deseja reencontrar sua própria voz, sua própria história e as escolhas que podem dar novo sentido ao que, por vezes, parece apenas sobrevivência.


Thaís Pontin
Psicóloga | Fundadora da Senda da Alma
"Este espaço nasce da escuta de muitas histórias — e da minha própria travessia.
Hoje, ele é pausa, reconexão e movimento."

 

A linguagem silenciosa do corpo

5 maio, 2025

"O corpo fala quando não sabemos mais o que dizer."

Quantas vezes você já sentiu um peso no peito, um nó na garganta ou uma dor de cabeça insistente — mesmo quando todos os exames diziam que estava tudo bem? Talvez seu corpo estivesse tentando dizer o que sua voz não conseguia.

 

Vivemos tempos em que as emoções são frequentemente silenciadas. Pela pressa, pela necessidade de parecer sempre forte ou pelo medo de reconhecer fragilidades, aprendemos a desconectar o sentir do expressar. Mas o que não dizemos com palavras, dizemos com o corpo.

 

O corpo tem uma linguagem silenciosa.

 

Jung nos ensinou que o corpo é mais do que uma máquina biológica: ele é a sombra visível da psique. Quando conflitos emocionais ou padrões inconscientes não encontram espaço na consciência, buscam caminhos alternativos — e frequentemente se manifestam como sintomas físicos. Essa visão foi ampliada por Marie-Louise von Franz ao compreender as doenças não apenas como disfunções, mas como símbolos. Para ela, cada dor pode carregar um pedido oculto de transformação. A compreensão simbólica do adoecimento também encontra sustentação na psicossomática moderna. Gabor Maté, psiquiatra e pesquisador, afirma que emoções reprimidas — especialmente aquelas associadas à raiva, medo e sensação de desamparo — não desaparecem. Elas permanecem ativas no corpo, moldando sintomas que vão de dores crônicas a doenças autoimunes.
"Quando ignoramos nossas necessidades emocionais, o corpo assume a tarefa de expressá-las", observa Maté.

 

Em muitos casos, observa-se que sintomas como crises de pânico ou mesmo doenças autoimunes coexistem com padrões emocionais ou traumas que não foram plenamente elaborados.
Isso não significa que a causa seja apenas emocional — essas condições têm origens multifatoriais, incluindo aspectos biológicos, genéticos e ambientais.
Contudo, a relação entre corpo e psique é inegável e nos convida a olhar para o sofrimento físico também como uma expressão do mundo emocional.

 

A vida moderna nos condiciona a usar máscaras.

Para trabalhar. Para conviver. Para sermos aceitos.

Na psicologia profunda, chamamos essa máscara social de Persona. Jung nos ensinou que a Persona é uma adaptação necessária, que nos permite desempenhar papéis e manter vínculos na sociedade.

O problema não está em usá-la, mas em acreditar que somos apenas ela.

Quando a Persona se torna rígida e passa a definir toda a nossa identidade, aquilo que é reprimido começa a buscar outras formas de expressão. Em contextos profissionais, sociais e até familiares, aprendemos a suprimir emoções consideradas indesejáveis: tristeza, raiva, frustração. Como resultado, vamos nos distanciando da escuta do próprio corpo.

Como afirmou Jung, aquilo que não se torna consciente acaba sendo vivenciado como destino — e, muitas vezes, como doença. A cultura da produtividade e da positividade tóxica reforça essa repressão emocional. Somos encorajados a ignorar sinais de esgotamento, normalizar o cansaço e anestesiar dores físicas e emocionais com medicamentos ou distrações. Mas o corpo, sábio e persistente, continua falando.

 

O corpo também fala nos gestos, nas tensões e nos silêncios.

Pierre Weil e Roland Tompakow, no clássico O Corpo Fala, nos lembram que não é apenas na dor que o corpo se comunica. Posturas, tensões musculares, gestos e até hábitos repetitivos falam sobre o que vivemos e sentimos — mesmo quando não reconhecemos conscientemente esses sentimentos. A psicologia comportamental e a psicologia profunda convergem nessa compreensão: O corpo é uma ponte entre o inconsciente e o mundo exterior. Ele denuncia nossos silêncios e revela, em pequenos gestos, o que a psique reprime.

 

Escutar não é fraqueza.  Reconhecer os sinais do corpo não é rendição, é um ato de coragem. Coragem para escutar, para sentir e — principalmente — para mudar. Na psicologia profunda, chamamos isso de individuação: O processo de tornar-se quem se é, integrando mente, corpo e emoções em uma jornada de reconexão consigo mesmo.

Escolher escutar é um ato de coragem. Não escolhemos os sintomas que o corpo manifesta, nem sempre escolhemos as circunstâncias que nos cercam.
Mas podemos escolher como nos relacionamos com esses sinais.
Podemos escolher a escuta ao invés do silêncio, o cuidado ao invés da repressão.
Essa é a primeira escolha no caminho da individuação: reconhecer que sentir e transformar é possível, mesmo que aos poucos.

O corpo fala. E quando você começa a escutar, ele não precisa mais gritar.

 

Para refletir:

Qual parte do seu corpo tem tentado te dizer algo ultimamente?

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A Cultura da Positividade Tóxica: O Sorriso que Esconde a Exaustão

23 abril, 2025

“Como você está?” Quantas vezes essa pergunta foi respondida com um automático “tudo bem”, mesmo quando algo dentro de você gritava o contrário?

Vivemos tempos em que o cansaço virou estilo de vida.
E o mais cruel: somos ensinados a sorrir por cima dele.

A cultura da exaustão é mais do que o acúmulo de tarefas, metas ou reuniões. Ela é um estado de alma esgotada. E uma das suas engrenagens mais silenciosas — e perversas — é a positividade tóxica.

Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, chama atenção para o modo como o mundo contemporâneo nos empurra à autoexploração: somos, ao mesmo tempo, senhores e servos de nós mesmos. Precisamos performar, render, entregar. E fazer isso tudo com leveza, gratidão e um sorriso no rosto. Mesmo quando tudo em nós pede pausa. Até o sofrimento precisa ser bonito.

O perigo esta na positividade tóxica e obrigatória,  aquela que nos obriga a encontrar o lado bom em tudo, mesmo quando o que a gente precisa é apenas chorar, descansar ou admitir que não está tudo bem.

Ela nos impede de acolher as dores legítimas da vida. Nos empurra para uma espiritualidade pasteurizada, uma saúde mental de cartilha, um autocuidado que não toca a alma.

Carl Jung já nos alertava que tudo aquilo que não é reconhecido e integrado na consciência retorna como sombra. Quando negamos o sofrimento, ele não desaparece — ele se move. Aparece no corpo, nos relacionamentos, na saúde emocional.

É como tentar manter uma represa intacta, mesmo quando a água já transborda por dentro.

Nos obrigamos a vestir a máscara da performance. É esperado que sejamos fortes, resilientes, positivos, colaborativos, produtivos… e calados.

Calados sobre o cansaço. Sobre as cobranças silenciosas. Sobre o medo de não dar conta. Sobre o vazio que cresce por dentro mesmo quando tudo parece certo por fora.

Como diria Winnicott, acabamos criando um falso self — uma persona que nos protege da exposição, mas que também nos distancia da nossa verdade. É a versão funcional de nós mesmos. Aquela que sabe o que dizer no call, mas que se perde quando o computador desliga.

A alma não quer render. Ela quer pertencer e no fundo, o que exaure não é só o excesso de trabalho — é a ausência de sentido. É estar constantemente representando um papel que não nos pertence mais.

Viktor Frankl, psiquiatra e sobrevivente do Holocausto, dizia que o ser humano é capaz de suportar quase tudo, desde que encontre sentido no que vive. Mas numa cultura que exige que sejamos felizes o tempo todo, até o sofrimento precisa ser justificado. E o vazio cresce onde o sentido deveria florescer. A cultura da exaustão nos faz confundir sobreviver com viver.

E é nesse momento que precisamos entender a pausa como resistência. Pausar é um ato de coragem.

Dizer “não” também é. Assumir que se está cansada, vulnerável ou sem respostas… mais ainda.

Mas é na pausa que o silêncio ganha voz. É nela que a alma, tantas vezes abafada por metas e filtros, começa a sussurrar de novo. E talvez esse sussurro diga:

“Você não precisa fingir que está tudo bem.
Eu só quero que você me escute.”

Deixo um um convite:

Se você está cansada de sorrir por obrigação...
Se sente que está sempre tentando dar conta de tudo — mas não sabe mais pra quem ou pra quê...
Se sua alma está pedindo por espaço, pausa, verdade...

Talvez seja hora de voltar a si.
Não com pressa, não com culpa — apenas com presença.
Porque voltar a si é, por si só, um gesto de inteireza.

Na Senda da Alma, é isso que buscamos.
Espaços de escuta. Caminhos de reconexão.
Vidas que não precisam mais caber em personagens.

A sua escuta para consigo já é um reencontro com o que importa.
Com aquilo que sobreviveu em silêncio, esperando por espaço.

 

Quando o trabalho nos adoece: a jornada da alma em tempos de esgotamento

9 abril, 2025

Há dores que não gritam.

Elas se escondem nos silêncios, nas insônias, nas manhãs que pesam mais do que deveriam
Você segue entregando, funcionando, atendendo expectativas — mas lá dentro, algo começou a se apagar. É sutil no começo. Um incômodo aqui, um vazio ali. Mas, aos poucos, essa sensação se torna uma presença constante: um cansaço que não passa, um desconforto sem nome, uma vida que já não parece sua.

Vivemos tempos em que o trabalho deixou de ser apenas trabalho. Ele se tornou identidade, missão, propósito. Somos constantemente lembrados de que precisamos "fazer o que amamos", como se isso resolvesse a dor de estar desconectado de si. E nessa busca, nos perdemos em papéis, metas, personas — moldes que nos afastam da nossa verdade interior.

Em algum momento, o corpo começa a dar sinais. A mente perde o ritmo. A alma… se distancia. E o que aparece pode ser chamado de ansiedade, burnout, estafa — mas no fundo, o que está acontecendo é um descompasso profundo entre quem você é e o papel que tem sustentado.

 

A tendência do ser humano é tratar esse colapso mental como falha, fraqueza, problema. Mas e se for o contrário? E se esse momento for um chamado da alma, um rompimento necessário com aquilo que já não faz mais sentido?

Na psicologia junguiana, acreditamos que há um movimento simbólico acontecendo quando adoecemos dessa forma. Um movimento interno que nos convida a deixar os papéis herdados — e caminhar em direção ao que é mais verdadeiro em nós. Esse tipo de sofrimento não se cura com produtividade, frases prontas ou promessas de alta performance emocional. Ele precisa de escuta. De presença. De coragem para pausar e abrir espaço para o que há tanto tempo tem sido silenciado.

 

A jornada da alma não é linear. Ela se desenha em espiral: vamos e voltamos, caímos e levantamos, mergulhamos e emergimos.
Antes de “melhorar”, muitas vezes é preciso encarar o inverno psíquico — aquele tempo de recolhimento em que nada floresce por fora, mas tudo se move por dentro.

Na clínica, acompanho muitas pessoas que chegam acreditando que estão falhando. Mas o que vivem, na verdade, é o início de uma transformação profunda. Elas estão apenas cansadas de sustentar uma versão de si que não dá mais conta do que pulsa dentro.

O que se rompe nesse momento não é a capacidade. É o pacto inconsciente com uma vida que já não reflete quem se é.

 

Fica aqui um convite para recomeços, se algo em você reverberou, talvez seja hora de escutar com mais delicadeza o que já vem sussurrando há algum tempo. Talvez sua alma esteja pedindo passagem. Talvez não seja fraqueza. Talvez seja o começo de uma reconexão.

Um processo terapêutico pode ser essa travessia — o espaço onde a alma encontra nome, acolhimento e direção.


Na Senda da Alma, meu propósito é criar esse espaço seguro: onde você pode parar de performar, e começar a se ouvir de verdade.

Se for o momento, minha presença está aqui.
👉 Clique aqui para acessar o texto e agendar sua sessão.

 

02/04_Dia Mundial da Conscientização do Autismo: um caminho de visibilidade, compreensão e ação!

2 abril, 2025

Hoje, 2 de abril, é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, uma data essencial para ampliar o entendimento sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e reforçar a importância da inclusão, respeito e acesso a direitos fundamentais.

Ao longo dos anos, essa data abriu espaço para um debate mais profundo sobre neurodivergência – um conceito que engloba não apenas o autismo, mas também TDAH, dislexia, discalculia, altas habilidades, entre outras formas únicas de funcionamento cognitivo.

Como psicóloga e pessoa neurodivergente, vejo de perto os desafios e também as riquezas de pensar e existir fora dos padrões esperados. Mas a conscientização, por si só, não basta. Precisamos transformar discursos em ações reais.

🔹 Como podemos tornar ambientes mais acessíveis?
🔹 O que estamos fazendo para acolher diferentes formas de pensar e aprender?
🔹 De que maneira garantimos que neurodivergentes sejam ouvidos e respeitados?

Sair do discurso e partir para a ação significa ajustar processos seletivos, flexibilizar formas de trabalho e ensino, ampliar diagnósticos e tratamentos acessíveis, e acima de tudo, garantir que a inclusão seja uma prática diária, e não apenas uma pauta de um único dia no ano.

A verdadeira inclusão acontece quando deixamos de esperar que as pessoas se encaixem em padrões rígidos e começamos a reconhecer, valorizar e adaptar o ambiente às diferentes formas de pensar, sentir e se relacionar.

Que este dia nos lembre da nossa responsabilidade coletiva de construir um mundo onde todas as mentes tenham espaço para florescer. Não basta falar sobre neurodiversidade – precisamos agir! 💙

#DiaMundialDoAutismo #Neurodiversidade #Inclusão #Conscientização #Ação #CadaMenteÉUmMundo

 

Quem somos além dos papéis que desempenhamos?

31 março, 2025

No intrincado palco da vida, vestimos diversas personas, máscaras que nos auxiliam a interagir com o mundo. Carl Jung, apresentou o conceito de persona como um 'traje' necessário, uma adaptação social que nos permite navegar pelas complexidades da existência.

No entanto, em um mundo cada vez mais exigente, corremos o risco de nos perdermos em meio a essas personas. O que acontece quando a 'roupa' que vestimos deixa de servir? Quando a persona, em vez de filtro, se torna prisão? Jung considera a persona um componente essencial da nossa relação com o mundo, uma faceta do ego que escolhemos revelar ou ocultar.

No ambiente profissional, a persona do trabalho muitas vezes se torna predominante, absorvendo toda a nossa identidade. Vestimos a máscara do profissional competente, do líder inspirador, do colega prestativo. E, em muitos casos, essa máscara se torna tão confortável que nos esquecemos de quem somos por baixo dela. O perigo reside na fusão entre identidade profissional e pessoal. Quando nos definimos apenas pelo que fazemos, corremos o risco de nos alienarmos de nós mesmos. A exaustão, a perda de sentido e as crises existenciais são os fantasmas que assombram aqueles que se perdem em meio à persona do trabalho.

Para alguns, a persona do trabalho se torna uma segunda pele, uma roupa que não conseguem tirar mesmo fora do expediente. Líderes que não conseguem relaxar, profissionais que sentem culpa ao desconectar, o medo de não serem aceitos fora do papel profissional. A vida se torna um palco onde a única personagem permitida é a persona do trabalho. O resultado é uma vida empobrecida, onde a identidade se restringe ao que se faz, e não a quem se é. A sensação de vazio, a falta de pertencimento e a angústia se instalam, corroendo o direito de existir para além do trabalho.

A persona, como parte do ego, é uma construção social, uma forma de nos apresentarmos ao mundo. Mas quando uma única persona domina, sufocamos outras facetas da nossa identidade. Quem somos nós sem nossos títulos, cargos e responsabilidades?O 'direito de existir' reside na redescoberta da nossa essência, na busca por uma identidade que transcenda o trabalho. É um convite à reflexão: quais são minhas outras personas? Quais paixões, talentos e valores me definem além do que faço?

A persona é necessária. Mas sua rigidez pode nos aprisionar em papéis limitantes. A flexibilidade, a capacidade de transitar entre diferentes personas, é fundamental para uma vida plena e autêntica.

Convido você a uma jornada de autodescoberta:

  • Quem sou eu sem meu trabalho?
  • Quais são minhas outras personas?
  • Estou vestindo uma roupa que me serve ou que me aprisiona?


Imagine um mundo onde pudéssemos nos expressar com autenticidade em todos os aspectos da vida. Um mundo em que a cada persona fosse um traje leve, e não uma armadura opressora. Essa jornada começa com a consciência—com o questionamento das máscaras que usamos e a busca pela nossa verdadeira essência.

Cabe a nós ressignificar a narrativa e transformar a dinâmica ao nosso redor.

Quando mudamos nosso próprio espaço, abrimos caminho para um novo mundo.

 

A Ilusão do Bem-Estar: Vulnerabilidade Emocional no Ambiente Corporativo

26 março, 2025

O aumento alarmante dos afastamentos por questões de saúde mental no ambiente corporativo revela uma crise silenciosa que afeta milhões de profissionais em todo o mundo. As empresas, cada vez mais conscientes desse problema, adotam discursos de bem-estar e segurança psicológica, promovendo iniciativas como espaço de relaxamento/descompressão, mindfulness, gympass, horários flexiveis, disponibilizar linhas telefônicas ou chats online confidenciais, onde os funcionários podem buscar ajuda em momentos de crise ou dificuldade e até mesmo o quase extinto trabalho remoto. No entanto, questiona-se a suficiência dessas ações para combater a raiz do problema. Enquanto algumas implementam ações efetivas, outras ainda negligenciam a saúde mental de seus colaboradores. Propõe-se que tais iniciativas podem servir como "cortina de fumaça" para mascarar culturas tóxicas e práticas de exploração que aumentam a vulnerabilidade emocional dos funcionários, especialmente quando se considera que muitas dessas práticas nem sempre são utilizadas pelos profissionais, imersos em responsabilidades, projetos, tarefas do dia a dia e na busca constante por “ir além ou fazer a mais ou sair da zona de conforto".

A cultura da exaustão, que se intensifica no ambiente de trabalho contemporâneo, exige um desempenho constante e crescente. A pressão para assumir múltiplas responsabilidades, muitas vezes além do escopo da função original, e para exceder as expectativas, somada à realização de tarefas que antes demandavam mais de um profissional, cria um cenário de sobrecarga. Metas inatingíveis e prazos desafiadores transformam o cotidiano em uma batalha constante, onde a exaustão emocional se torna a norma, expondo os trabalhadores à vulnerabilidade. Curiosamente, profissionais outrora considerados referências, que antes personificavam o sucesso e a alta performance, hoje se encontram em um estado de vulnerabilidade, amargando as consequências dessa cultura.

A vulnerabilidade emocional, intensificada pela cultura da exaustão, que se manifesta em ambientes de trabalho contemporâneos, acarreta uma série de consequências psicológicas devastadoras. Esse contexto de angustia leva ao autoquestionamento das próprias competências, à dúvida constante sobre a capacidade de realizar o trabalho de forma satisfatória e à sensação de inadequação. A escassez de reconhecimento e a constante sensação de que o trabalho nunca é suficiente intensificam esse ciclo de insegurança.

A cultura do silêncio, que se manifesta na ilusão da abertura, na minimização dos problemas e no fingimento da escuta, leva os profissionais a internalizar a culpa e a duvidar de suas próprias capacidades, aumentando sua vulnerabilidade emocional. A falta de reconhecimento, a comunicação ineficaz, a sobrecarga de informação e a hiperconectividade desvinculam os indivíduos de suas emoções, transformando-os em meras engrenagens de uma máquina implacável. Nesse cenário, o questionamento do status quo torna-se impensável, por receio de ser considerado 'fraco' ou 'incompetente', intensificando a vulnerabilidade emocional. Essa alienação, descrita por Marx como a perda de significado e a desumanização no trabalho, é uma das consequências da exploração que leva à vulnerabilidade emocional.

O reconhecimento, quando escasso e seletivo, deixa de ser um incentivo genuíno e se transforma em uma ferramenta de controle, aumentando a vulnerabilidade emocional dos trabalhadores. As empresas podem utilizá-lo para recompensar aqueles que se submetem às práticas de gestão tóxicas e para punir aqueles que questionam o status quo, criando um ambiente onde a lealdade e a subserviência são mais valorizadas do que a competência e a integridade. A falta de reconhecimento leva os trabalhadores a se sentirem desvalorizados e desmotivados, questionando o significado de seu trabalho e duvidando de suas próprias capacidades. Essa desvalorização contribui para a erosão da autoconfiança e o agravamento da vulnerabilidade emocional. A busca por reconhecimento se torna um ciclo interminável de frustração, onde o esforço nunca é suficiente e as recompensas são inatingíveis. Essa frustração constante leva à exaustão emocional, ao ressentimento e à alienação, prejudicando a saúde mental e a qualidade de vida dos trabalhadores

Vemos a evolução de um panorama preocupante do ambiente de trabalho contemporâneo. A cultura da exaustão, a pressão constante por alta performance, o reconhecimento escasso e seletivo, a cultura do silêncio e a alienação se combinam para criar um cenário de vulnerabilidade emocional generalizada. As empresas, ao invés de oferecerem soluções genuínas para o bem-estar de seus funcionários, muitas vezes se valem de discursos e práticas que servem apenas como ilusão, mascarando a realidade de um ambiente tóxico e explorador.

A urgência de uma mudança radical se faz evidente. É imperativo que as organizações repensem suas práticas de gestão e adotem abordagens mais humanas e sustentáveis. A saúde emocional dos trabalhadores deve ser colocada no centro das decisões, com a implementação de políticas e práticas que promovam a comunicação aberta, a transparência, o reconhecimento justo e o respeito à individualidade. A construção de um ambiente de trabalho saudável e equilibrado exige um compromisso coletivo. É necessário que os trabalhadores se unam para exigir seus direitos e para denunciar as práticas abusivas. As empresas, por sua vez, devem assumir a responsabilidade de criar um ambiente onde a saúde emocional seja priorizada e onde o bem-estar seja uma realidade, e não apenas um discurso vazio.

A transformação do ambiente de trabalho não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também uma necessidade para a sobrevivência das próprias empresas. A longo prazo, a cultura da exaustão e a exploração da vulnerabilidade emocional levam à queda da produtividade, ao aumento do absenteísmo e à perda de talentos.

Apenas um ambiente de trabalho saudável e humano pode garantir o sucesso e a sustentabilidade das organizações no futuro.

 

Terapia para que?

1 agosto, 2024

Já pararam para pensar na loucura que é viver nesse mundo na atualidade? Não que antes fosse tranquilo, mas nos últimos anos as coisas mudam tão rápido que a gente mal pisca e já estamos em outra realidade. Imagina que antes a vida era como um quebra-cabeça com peças grandes e fáceis de encaixar. Agora, as peças são minúsculas, irregulares e mudam de lugar o tempo todo! É como se a gente estivesse tentando montar um castelo de areia numa tempestade.

Quando começou a ficar desafiador, o conceito que surgiu para descrever o mundo foi VUCA -  Um mundo Volatil, Incerto, Complexo e Ambíguo. Agora esse conceito já não dá mais conta do recado, pois,  vivemos em um contexto ainda mais desafiador: Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible (BANI) - B frágil, A ansioso, N não linear e I incompreensível -  onde, as transformações constantes e a sobrecarga de informações nos levam a um estado de ansiedade quase crônica, afetando nossas relações, nossa identidade e nosso propósito de vida.  

Tudo fica mais confuso e a gente se vê perdido em meio a tantas transformações. É normal se sentir assim, afinal, somos seres humanos e precisamos de tempo para nos adaptar a essas mudanças.

Mas, e quando esse sentimento de desorientação se torna constante? Quando a ansiedade, a tristeza e a angústia passam a fazer parte do nosso dia a dia? É aí que a gente começa a se questionar: Quem sou eu? O que eu quero da vida? Qual o meu propósito?

É nesse momento que a terapia se torna uma verdadeira aliada. Ao invés de ficarmos à deriva, navegando em um mar de incertezas, a terapia nos proporciona um espaço seguro para explorarmos nossos sentimentos, emoções e pensamentos mais profundos.

Com o apoio de um terapeuta, podemos trabalhar  com mistérios do nosso inconsciente, identificar padrões de comportamento que nos limitam e ressignificar experiências dolorosas. É como se a terapia fosse uma espécie de mapa que nos guia através do labirinto da nossa mente, ajudando-nos a encontrar a saída.

Atuando sob a luz da abordagem junguiana, desenvolvida por Carl Jung um dos mais importantes psicólogos do século XX, na qual acreditava que todos nós carregamos dentro de nós arquétipos, ou seja, padrões universais de comportamento e pensamento que moldam a nossa personalidade.

Ao explorar esses arquétipos, podemos compreender melhor as nossas motivações, medos e desejos. A terapia junguiana nos convida a embarcar em uma jornada de autoconhecimento, buscando integrar as diferentes facetas da nossa personalidade e alcançar um estado de equilíbrio e harmonia interior.

E aí, pronto para essa jornada?

Se você está se sentindo perdido, confuso ou simplesmente precisando de um tempo para cuidar de si mesmo, a terapia pode ser a chave para encontrar um novo significado para a sua vida.

Lembre-se: você não está sozinho nessa! A terapia é um espaço para você ser quem você é, sem julgamentos.

Vamos conversar?

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